Toda garota quando era pequena sonhava com um príncipe encantado, muitas delas acreditavam que seu príncipe era loiro de olhos azuis e que viria buscá-la em seu castelo para dançarem a valsa a meia noite, víamos contos de fadas e nos imaginávamos ali, tendo o nosso conto de fadas. Toda menina também, amava alguém mais velho ou alguém da televisão. Porém, passavam se os anos e os sentimentos e paixões dessas meninas mudavam.
Um dia, passeando pelo parque da cidade, vi uma menininha loira sentada na areia, de bracinhos cruzados e emburrada. Hesitei em perguntar o que havia acontecido, porem não resisti e perguntei. A menina me dizia que amava alguém mas esse alguém não a amava. Sorri e disse a ela que isso logo passaria, que ela encontraria um príncipe lindo que a amaria muito, porém a menininha era mais esperta do que eu imaginava; a mesma me contava que o rapaz por quem ela era apaixonada tinha doze anos e que ele a achava muito criança, afinal, ela só tinha cinco aninhos. Eu estava atrasada, então, em um papel anotei meu telefone e disse há ela que sempre que precisasse poderia me ligar.
Os anos passaram e eu me esqueci da pequena. Um dia sentada ao sofá lendo algumas revistas antigas, ouvi meu telefone tocar e atendi. "alô?", "oi, é a SM.", hesitei... SM? Sim, me lembrei da antiga menininha que estava emburrada por não ser correspondida. Ela chorava muito e então perguntei a ela o que havia acontecido. A menina me dizia: "Foi o fim para mim, eu o peguei beijando nossa prima, a nossa prima. Eu juro pra mim mesma que eu nunca mais vou olhar na cara dele, fazem cinco anos que eu gosto dele e ele nem oi me dá. Não quero mais sofrer, não vou mais amar.", depois descobri que SM. havia ficado com febre por causa do tal rapaz, descobri também que eles eram quase primos e o mais importante, descobri que depois daquele dia, ela começara a o evitar. Não ia aonde ele ia, não queria passar datas comemorativas com a família do pai pois sabia que o encontraria.
A menina então cresceu, agora já com quatorze anos, ela tinha corpo de mulher. Tinha namorado e era a mais desejada das amigas; em um aniversário de sua prima, a menina se embelezou toda, colocou sua bota de salto, seu short predileto e uma blusinha regata branca. A festa seria perfeita se ao cumprimentar sua prima, ela não visse ao lado um menino moreno, olhando-a fixamente. Por um momento, todo o sentimento de criança veio a tona, as pernas tremeram, as lágrimas queriam aparecer, as mãos soavam e então ele soltou: "Oi", ela em êxtase apenas sorriu e saiu da pequena sala. A partir de então, eles começaram a conversar por MSN praticamente todos os dias e só então ela descobriu que ele namorava a cinco anos, foi como se o seu amor por ele tivesse voltado, só que dessa vez, ela o amava, o amava mais que tudo, ela necessitava dele. Ainda sim, ela percebera que ele não prestava atenção nela, não via que ela tinha crescido então parou de falar com ele.
Já com quinze anos, a menina havia ido dormir na casa de sua tia junto com sua melhor amiga. E para sua surpresa ele estava lá, então, ela se decidiu que essa era a hora de tê-lo pra ela. Eles ficaram a madrugada inteira conversando, sobre diversos assuntos e as vezes ele dizia "com quinze anos, eu não fazia tal coisa..." ou então "é que você ainda é criança"; a menina se revoltou com ele e disse que já não era mais criança, que era melhor que muita mulher. E para a surpresa de todos, depois de muito persistir e quase desistir, o rapaz a beijou. O rapaz a beijou como ninguém, o rapaz a acariciou, tocou-a, o rapaz a tratou como uma princesa; e só então ela percebeu que aquele príncipe que ela sonhara quando pequena estava ali, diante de seus olhos realizando a maior de suas vontades.
A partir daí a menina não me ligou mais, não me falou mais nada.
Anos depois, encontrei uma mulher sentada ao mesmo lugar em que encontrei a menininha anos atrás. Para minha surpresa, era ela. Fomos tomar um chá. Ela dizia-me que depois de aquele dia, eles se viam sempre, que ambos tinham necessidade um do outro, eles faziam amor a todo instante, a todo momento e a qualquer oportunidade se amavam: embaixo de uma árvore, na trilha, na piscina, no quarto, no banheiro, em qualquer lugar; porém, um dia tiveram uma briga muito feia e não se falaram mais, mas ambos não conseguiam parar de pensar um no outro e que mesmo que a família não apoiasse eles haviam resolvido ficar juntos. Hoje, eles estão juntos a trinta anos e tem dois filhos lindos, o Caio e a Samantha; eles se amam como ninguém, eles se sentem, se tocam, eles se iluminam. Ninguém acreditaria se eu dissesse que os amores de infância são os mais reais, mas no fundo, nós sabemos que eles são, porém, sempre se apagam na adolescência; mas eu garanto, o amor que a menina sentia pelo rapaz, ah, era um amor fora do comum, um amor além das novelas, um amor que só os olhos de outro coração apaixonado conseguia ver.
